POLÊMICA biocombustíveis "versus" alimentos ganhou destaque nesta semana em relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Ainda que não vá ao extremo de afirmar que álcool e biodiesel levarão fome aos países pobres, o documento "Perspectiva Agrícola 2007/ 2016" aponta a demanda por essa alternativa ao petróleo como principal motor da manutenção dos preços de commodities agrícolas em patamar elevado na próxima década.O relatório assinala que a alta acarretará perda de renda para países que são importadores líquidos dessas mercadorias -na África, por exemplo. Por outro lado, preços em elevação constituem um poderoso estímulo para expandir a produção e a produtividade, vale dizer, para investimentos. Isso cria uma oportunidade ímpar para os países mais pobres, pois neles se concentram alguns requisitos básicos: terras agricultáveis, sol e água (o que costuma lhes faltar é capital e tecnologia).Sob esse ângulo, nenhuma nação se compara ao Brasil. O documento projeta que a produção de álcool combustível nacional crescerá 145% até 2016, atingindo 44 bilhões de litros. Hoje são 17 bilhões de litros/ano (dos quais 13 bilhões consumidos internamente), produzidos da cana-de-açúcar plantada em apenas 10% da área agrícola, como afirmou o presidente Lula na quarta-feira na Suécia, em périplo pró-biocombustíveis pela Escandinávia.Seria fútil negar, porém, que a destinação de parcelas crescentes das safras de milho e soja para produzir biocombustíveis ocasionará alguma inflação nos preços de alimentos e rações animais. Tampouco cabe desconsiderar que se avolumam questionamentos sobre o real benefício ambiental da bioenergia. Computado todo o petróleo consumido no ciclo de produção, dos fertilizantes às máquinas, a contribuição dos biocombustíveis para retardar a mudança climática pode ser irrisória, como ocorre com o álcool de milho nos EUA.Em outras palavras, álcool e biodiesel não são uma panacéia socioambiental, mas representam oportunidades significativas. Para que cumpram ao menos parte das promessas, dependem de que deslanche o investimento nas tecnologias do cultivo e da produção de combustíveis "verdes". Um passo crucial seria suspender as tarifas protecionistas com que os EUA e países europeus gravam biocombustíveis (no caso do álcool brasileiro exportado à Europa, o ônus pode alcançar 55%).Por ora, só a Suécia deu o exemplo, anunciando que eliminará até 2009 o gravame. Cedo ou tarde, as tarifas cairão por conta própria: com demanda e preços sustentados, definha a própria necessidade de proteger produtores nacionais. Líderes com visão se adiantariam à tendência baixando já tarifas para que os biocombustíveis se transformem em verdadeiras commodities e incluam países em desenvolvimento num novo ciclo de geração de riqueza.
fonte: © 2008 Biodieselbr Online Ltda
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